sexta-feira, 13 de maio de 2011

Entrevista da Secretária Macedo no Blog Educação.

 

Em 23 de dezembro de 2010, o Blog Educação publicou uma reportagem sobre os resultados de Itaú de Minas. Para iniciarmos este blog  transcrevemos parte da reportagem. 

(A reportagem na íntegra pode ser lida em  http://www.blogeducacao.org.br/indicadores-da-educacao-de-itau-de-minas-mg/





           
O Desafio IDEB no Caminho Certo tem como objetivo reconhecer os municípios participantes do projeto Parceria Votorantim pela Educação que apresentaram avanços significativos entre o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2007 e 2009. Nesta reportagem vamos conhecer as razões dos bons resultados em educação obtidos por  Itaú de Minas, município do sudoeste de Minas Gerais. 



A soma de diversos fatores é que leva, em geral, um município a superar barreiras e oferecer uma educação de qualidade e acessível a sua população. Com Itaú de Minas isso não tem sido diferente. Para melhorar as condições da rede municipal de ensino e alcançar avanços significativos como os registrados no IDEB de 2009 (veja quadro ao lado), a cidade tem investido em diversas frentes como: ampliação de recursos pedagógicos, melhorias em infra-estrutura e capacitação de docentes.

Segundo a Secretária Municipal de Educação, Maria Aparecida Alves Macedo Ferreira, toda essa estratégia, no entanto, só se traduz efetivamente em resultados positivos graças a um fator essencial: o comprometimento dos profissionais da educação.  Para ela, de nada adiantaria um planejamento estratégico de gestão, se em cada sala de aula não houvesse um professor disposto a colocá-lo em prática. “Crescemos porque toda a equipe se comprometeu com os resultados”, afirma.


E a Secretária Macedo concedeu esta entrevista ao Blog:

1. Qual é a importância para a educação e toda a rede de ensino em contar com um processo contínuo de avaliação e de estabelecimento de metas, como o Ideb?

É fundamental pois possibilita conhecer a realidade educacional de toda a rede de ensino, e este diagnóstico oferece subsídios para as mudanças que precisam ser implementadas. Com o estabelecimento de metas é possível promover uma forma de trabalho que impulsione as ações da Secretaria de Educação, bem como das escolas, profissionais, alunos e família, tendo como foco a melhoria constante da qualidade de ensino.

2. A rede de ensino municipal – professores e gestores – está engajada em processos de avaliação como Provinha Brasil e Saeb? Prepara os alunos, estimula-os a estudar e a participar de outras iniciativas como as Olimpíadas de Matemática, Língua Portuguesa etc?

As avaliações externas são encaradas pela rede de ensino municipal como possibilidade de aprimoramento. Nos últimos anos temos participado de todas as edições da Provinha Brasil, SAEB, além do Simave (Proeb) e Proalfa da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. O município possui também o seu próprio sistema municipal de avaliação, conhecido como Provão, que anualmente é aplicado aos alunos da rede de 1º ao 9º ano de ensino fundamental e avalia todas as disciplinas do currículo. Nossos alunos participam também de outras iniciativas como: Olimpíadas de Matemática, de Língua Portuguesa e de Astronomia (OBA); Prêmio Assis Chateaubriand; Viva Feliz sem Drogas; Concurso EPTV na Escola; Fazendo Arte (Rotary); ACIIM no Futuro (Associação Comercial e Industrial de Itaú de Minas); Projeto Semeando (Senar/MG); Concurso literário Ricardo Alvarez (escritor argentino); Projeto Procel (Furnas); Concurso Tempos de Escola (Instituto Votorantim), dentre muitos outros.

3. O resultado alcançado pelo município no Ideb de 2005 serviu como motivador para a criação ou aprimoramento das propostas e projetos locais visando à melhoria da qualidade da educação da cidade?

É claro. Em 2005 havíamos encontrado uma situação difícil em relação ao  aproveitamento dos alunos, em parte motivada por anos de promoção automática (ciclo), o que nos levou a romper com esta realidade, retornando ao sistema de seriação. Os resultados do IDEB de 2005 nos anos finais (6º ao 9º ano) confirmaram nosso atraso e serviu como instrumento para planejarmos o crescimento e as tomadas de decisões para o seu alcance. Os resultados dos anos iniciais já foram satisfatórios, mas não uniformes entre todas as escolas, indicando onde os esforços precisavam se concentrar. A partir daí, o planejamento de estratégias de enfrentamento foi fundamental para a construção de perspectivas.

4. A que fatores você atribui o avanço do Ideb que a rede de seu município obteve entre 2007 e 2009?

O avanço do IDEB entre 2007 e 2009 foi resultado da dedicação e compromisso dos profissionais da educação em cada escola. De nada adiantaria um planejamento estratégico de gestão, se em cada sala de aula não houvesse um professor disposto a colocá-lo em prática. Crescemos porque toda a equipe se comprometeu com os resultados. Implementamos a partir de 2005 simpósios anuais de educação com duração de 3 dias com palestrantes renomados e oficinas temáticas. Oferecemos a todas as escolas equipes de apoio, com professores eventuais, professores recuperadores, supervisores pedagógicos (anos iniciais) e coordenadores pedagógicos (anos finais). O projeto de jornada ampliada também foi fomentado no contra turno com oficinas de artesanato, música, xadrez e informática. As escolas do ensino fundamental receberam reforços nas bibliotecas e laboratórios de informática. Passaram a ocorrer anualmente “Mostras de Teatro” com a participação de todas as escolas. Foram oferecidas a toda a rede de ensino condições físicas de infra-estrutura dos prédios e amplo material didático e pedagógico, além disso, disponibilizamos transporte escolar rural e urbano totalmente gratuitos para conforto e segurança dos alunos. Todas essas ações juntas têm contribuído para o avanço de nossos resultados.

5. As escolas têm se apropriado desta ferramenta para aprimoramento de processos? De que forma? Qual é o incentivo e apoio oferecido para a secretaria para isso?

As escolas passaram a enxergar nos índices alcançados parâmetros para se auto-avaliarem e buscarem soluções para sanar as dificuldades. As equipes que coordenam o acompanhamento pedagógico têm agora um planejamento compartilhado. Até as escolhas de livro didático passaram a ser feitas pelo conjunto das escolas, buscando uma união entre objetivos e projetos a serem executados. O módulo II (2 horas semanais) se tornou um momento de troca, onde professores assumem alternadamente o papel de protagonistas, dirigindo oficinas à frente dos demais colegas, repassando exemplos de boas práticas. Além da recuperação paralela, no contraturno as escolas adotaram um sistema de rodízio, no qual o regente tem períodos de atendimento individualizado com alunos com dificuldade. Nas escolas dos anos finais (6º ao 9º ano) foi implantado o que chamaram de “Mutirão de atendimento” para que, ao final de cada etapa, os alunos com aproveitamento insatisfatório tenham nova chance de se recuperar. A Secretaria de Educação observando que um dos entraves era ainda a postura conservadora na maneira de ensinar, criou em 2009 o Programa de Capacitação dos Profissionais da Educação, que oferecia 40 horas de estudo. Com o sucesso do programa, em 2010, a carga horária foi ampliada para 60 horas. O programa consiste em encontros nos quais são discutidos temas como gestão escolar, alimentação e nutrição, pró-letramento, educação infantil, currículo básico comum, entre outras questões.

6. Há processos de comunicação e informação aos pais a respeito dos resultados alcançados no Ideb?

Sim, os resultados são publicados em jornais da cidade e discutidos em reuniões com os pais nas escolas, convocados especificamente para isso. As equipes preparam relatórios, gráficos comparativos e os apresentam através de projeções de data-show. Também recebem sugestões dos pais de como melhorar estes índices.

7. Quais os desafios ainda a superar para ampliar estas conquistas?

São muitos os desafios. Estar em uma condição insatisfatória e saltar para uma melhoria razoável é fácil. Manter um crescimento vigoroso e contínuo é difícil, mas é este que nos interessa. Não lançaremos artifícios para mascarar índices, como aprovar alunos que nada sabem, ou impedir alunos inclusos (com necessidades especiais) de fazerem a prova para ter um crescimento manipulado. Nossa crença é na melhoria da qualidade de educação pautada em atitudes e posturas que talvez não possam ser captadas por índices, rankings ou classificações. Encaramos o IDEB como um dos instrumentos de monitoramento desta qualidade, mas não o único. Os desafios para continuar este crescimento passa primordialmente pela mudança de nossas práticas pedagógicas, pois temos dificuldades enormes em acompanhar a rapidez das transformações do mundo fora dos muros da escola.

8. Neste processo, qual deve ser o papel assumido por cada agente – gestor público, diretor, professor, família e aluno – para que os índices avancem e as mudanças de fato aconteçam na educação?

Para que melhorias na Educação se consolidem e avancem é preciso que cada agente da comunidade escolar tenha seu papel definido e assumido de maneira comprometida. À Secretaria de Educação cabe gerenciar com competência os recursos financeiros, humanos e materiais de forma que atenda as demandas de cada escola. Ao diretor cabe a responsabilidade de “contaminar” com entusiasmo a equipe, acreditando nas propostas que apresenta. Nada acontece numa escola se o diretor não quiser, não acreditar. Ao professor fica talvez a parte mais difícil, que é aceitar que tivemos uma formação inicial deficitária e que só seremos de fato educadores, estudando, pesquisando, nos apropriando das novas tecnologias que tanto encantam nossos alunos. Aos alunos cabe assumirem uma postura de protagonismo, de participação efetiva na construção da identidade da escola, estudando e tendo interesse pelo próprio crescimento. Já às famílias cabe o acompanhamento, o estar perto, saber o que ocorre na escola e intervir para apresentar críticas e soluções. Enfim, é preciso que todos reconheçam o poder de uma educação de qualidade, afinal, o homem só pode aquilo que sabe…


Por Cleide QuináliaEscribano / Blog Educação